Mãe de Herus desabafa e cobra justiça: “Nem doar os órgãos ele pôde”

Enterrado no domingo, (08), Herus foi homenageado pela comunidade, que pediu paz e justiça. / Foto: Perifa Connection

A morte de Herus Guimarães Mendes da Conceição, de 24 anos, durante uma operação do Bope em uma festa junina no Morro Santo Amaro, no Catete (zona sul do Rio), mobiliza familiares, autoridades e órgãos de direitos humanos em busca de esclarecimento e responsabilização.

A mãe de Herus revelou em entrevistas que havia conversado com o filho sobre seu desejo de doar órgãos, uma vontade que não pôde ser cumprida devido ao estado em que o corpo foi encontrado. “Nem esse sonho dele pude realizar”, lamentou.

Enterrado no domingo, (08), Herus foi homenageado pela comunidade, que pediu paz e justiça. / Foto: Perifa Connection

Segundo relatos locais, o office boy foi atingido por dois disparos durante uma intervenção policial realizada na madrugada de sábado (7), durane uma festa tradicional na comuidade. Herus, que estava com família e amigos, foi levado por moradores ao Hospital Glória D’Or, mas não resistiu aos ferimentos. Além dele, outras cinco pessoas ficaram feridas.

O governador Cláudio Castro anunciou o afastamento dos policiais envolvidos e disse estar “triste e indignado”, ressaltando que “palavras não vão trazer ninguém de volta”. A PM informou que as câmeras corporais estão sob análise, e tanto o Bope quanto a Corregedoria instauraram procedimentos internos. O Ministério Público do Rio também conduziu perícia independente no IML, usando métodos avançados para mapear a dinâmica dos tiros.

O Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania divulgou nota de pesar em 7 de junho por meio do Ministério da Justiça, destacando que a tragédia expõe a urgência de revisar protocolos de segurança pública e promover educação antirracista entre agentes. O texto ainda defende investigação rigorosa, transparência, responsabilização e ações que previnam tragédias similares, evitando confrontos armados em eventos comunitários.

Morte de Herus Mendes e o padrão de letalidade em favelas

Operações recentes como as ocorridas na Cidade de Deus, Rocinha, Complexo do Israel e Vila Cruzeiro (2022) demonstram o padrão repetido de confrontos armados nas comunidades. A operação em Vila Cruzeiro, por exemplo, foi uma das mais letais da história do estado, com pelo menos 23 mortes.

Já em maio deste ano, uma operação no Complexo do Israel resultou em tiroteios que atingiram ônibus em avenidas centrais. Em 2023, a Rede de Observatórios da Segurança revelou um estudo que, 4.025 pessoas foram mortas por policiais no Brasil. Desses, 3.169 casos foram disponibilizados os dados de raça e cor: 2.782 das vítimas eram pessoas negras, o que representa 87,8%. Além das mortes, há um histórico de abordagens truculentas e humilhações, como no caso recente de três jovens negros agredidos ao saírem da praia em Ipanema, apenas por sua aparência e origem.

Nesta terça-feira (10), o Ministério da Igualdade Racial (MIR) publicou nova nota reforçando “a urgência de ações concretas para a proteção da juventude negra brasileira”. A pasta já havia encaminhado ofício ao governo do Estado do Rio solicitando explicações e medidas preventivas.

O texto do MIR aponta que a morte de Herus não é um caso isolado, mas parte de um padrão de violência letal que atinge principalmente jovens negros e periféricos, e pede revisão dos protocolos de abordagem policial, bem como investimentos em políticas de inclusão, reparação e cidadania

Enterrado no domingo, (08), Herus foi homenageado pela comunidade, que pediu paz e justiça. No fim da cerimônia, familiares e moradores protestaram pacificamente, até que um veículo avançou entre os presentes e disparou tiros para o alto. Os protestos visaram manter a pressão por transparência, respostas das autoridades e responsabilização por esse episódio que tirou a vida de um jovem negro, trabalhador e mais vítima da violência do Estado contra moradores das favelas cariocas.

Leita também: “Obrigado, governador, pelo mínimo”, Oruam responde governador do RJ em postagem sobre afastamento de policiais do caso Herus

Jaice Balduino

Jaice Balduino

Jaice Balduino é jornalista e especialista em Comunicação Digital, com experiência em redação SEO, assessoria de imprensa e estratégias de conteúdo para setores como tecnologia, educação, beleza, impacto social e diversidade. Mineira e uma das mentoradas selecionada por Rachel Maia em 2021. Acredita no poder da colaboração e da inovação para transformar narrativas e impulsionar negócios com excelência

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